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O vôo de Zé Trovão

31 de julho de 2007

A vida é cheia de vôos. Esteja preparado para escolher os melhores e, se queres sentir a felicidade, voe alto. O próprio amor te ajudará. Porque quanto mais a gente acredita em nosso sonho, mais realizações aparecem em nossa. Eu, particularmente, deixo Deus se auto-definir em minhas músicas. Por isso, sinto-me motivado para uma nova etapa de vida.

O comentário, em tom filosófico, é do músico paraibano José Trovão de Melo Júnior. Poeta, cantor e compositor, lançou recentemente o CD "Antes que o disco voe", numa produção independente que contou com a ajuda de amigos. O CD, o primeiro de sua carreira musical, terá um outro lançamento em setembro, dentro do Projeto Seis e Meia.

O disco não deixa de ser diferenciado em relação às produções musicais recentes. Vai do blues ao reggae, sem esquecer do pop. Músicas onde não faltam a veia poética nas letras das canções. Na verdade, esta é uma forma de envolver os mais variados perfis musicais.

Zé Trovão, como é mais conhecido, não é um artista desconhecido na cena musical paraibana. Na verdade, começou lá atrás, ainda em Campina Grande, como mascote de uma banda chamada Sebomatos. A banda, uma espécie de Beatles campinense, teve, entre seus integrantes, o multimídia Bráulio Tavares. Trovão lembra que aprendeu os primeiros acordes musicais com os integrantes da banda, que lhe ensinava pacientemente.

Aos 14 anos, tentou fazer uma banda, que não chegou a ir muito adiante. No final dos anos 80, Zé Trovão conheceu Cacá Ribeiro, com quem construiu uma frutífera parceria. Chegaram a fazer shows e produzir uma fita alternativa intitulada "Decanto dos sentidos". Na época, houve uma boa repercussão do trabalho feito.

Em seguida, viajou para a França, onde morou algum tempo e investiu na literatura. Lançou três livros, sendo um de poesia – "Para artista ruim, tomate no fim", além de "O mundo invisível no limite das descobertas" e "Até onde sua cabeça for". Todos num estilo que vai do irônico, ao sarcástico, como é comum também nas letras de suas composições.

De volta à terra natal, Zé Trovão foi convencido por amigos, como Archidy Picado e Jeová de Carvalho, a gravar "Antes que o disco voe". Até agora, a repercussão em relação a este trabalho tem sido positiva e Zé Trovão já programa lançamentos e divulgação também em Campina Grande, Recife e Natal.

No disco, reuniu músicas antigas e outras que tinham sido compostas recentemente. O trabalho de produção, que dividiu com Jeová, foi exaustivo. "Às vezes, as pessoas pegam o disco pronto e não imaginam quanto trabalho dá para a produção dele", afirma. E aí, inclui-se fazer arranjos, contatar músicos, enfim."Eu me envolvo demais no que faço e acabo dando palpite dos arranjos até mesmo na confecção da capa", explica. A capa e o design gráfico, aliás, foi feita por Archidy Picado.

Já, musicalmente, o CD tem a participação de talentos de várias gerações da música paraibana. Nomes como Aurélio Beltrão, Pilha, Tampinha, Cristiano, Casse, Beto S3, Everaldo e Petrônio Beltrão, entre outros, assumem a parte musical do disco.

Sobre o espaço que seu disco vem conquistando nas emissoras de rádio pessoense, Zé Trovão diz que não tem particularmente do que reclamar. "O disco vem sendo bem divulgado nas rádios locais. Acredito que lançá-lo foi um grande teste para me estimular".

Mesmo assim, o artista diz que reconhece que nem todo mundo tem a chance que vem conquistando na mídia paraibana.

E cita casos de muitos artistas paraibanos que vivem reclamando, com razão, segundo ele, das restrições que são geralmente feitas aos artistas da terra. "Nós temos capacidade própria para fazer sucesso primeiro aqui", declara, criticando a mania dos paraibanos de só valorizar o que faz sucesso primeiro fora do Estado. Zé Trovão, que é produzido na Paraíba pela GG Produções, de Germana Galvão, destaca que a Paraíba é um celeiro de grandes artistas, celeiro este que precisar ser mais valorizado.

Algumas opiniões sobre o músico

O andamento intencionalmente melódico desse disco, todo construído em versos e letras longas, faz com que o público ouvinte, sem esforço aparente, mas sentindo a intensa poesia desse artista, se vá deixando penetrar pelas músicas de Zé Trovão. Este compositor, ao mesmo tempo em que mostra que a poesia é uma via inusitada de afetos, protestos e criações e que perambulam pelas pequeninas e cálidas realidades do homem, indica igualmente que cabe ao próprio homem acolher o plano da igualdade, da paz e da civilização humana. Trovão me lembrou alguns folks de Bob Dylan, memórias de suas influências musicais constantes. Por outro lado, esse seu álbum "Antes que o disco voe" muito bem expressa e ultrapassa, com excelente domínio verbal e rítmico, essa música dita socialmente "engajada", graças ao cuidadoso trabalho de elaboração. Daí, isso faz Trovão entrar de vez e em plano de igualdade nos melhores círculos da nossa conceituada MPB.

(Augusto Tarzo)

Fui apresentada ao compositor e cantor Zé Trovão. Apesar de conhecer apenas um CD e ouvir nove canções de sua autoria, pude reconhecer originalidade no seu trabalho, expressa com força poética e musicalidade apurada. Parabéns ao Zé pela bela voz de trovador, de timbre grave e bem colocada, e também pelas belas canções. Que Deus lhe abençoe nessa caminhada!

(Elba Ramalho)

Zé Trovão é: Voz , mensagem e melodia.

(Capim Cubano )

Antes que o disco voe, vou logo mandar o meu abraço senão eu perco a viagem. Sabido traquejos musicas e literários de Zé Trovão, mas não tinha conferido o vozeirão e a criatividade de letrista e melodista. Na boa invernia musical, "Antes que o disco voe" é um arco-íris de sons; são balas líquidas de chuva e bemóis afinados de Trovão.

(Jessier Quirino)

Trovão, é assim que ele gosta de ser chamado, já tem uma história pra contar. Escritor, poeta, compositor e intérprete, cantou e tocou em meados dos anos 80, ousou performances ao vivo e mais alguns momentos talentosos ao lado do músico Cacá Ribeiro em tempos mais alternativos, todavia que já ofereciam muitas das pistas acústicas da sua voz repleta de mensagens. Desde então, mesmo com um sobrenome imponente e ainda aparecendo com um registro vocal auspicioso, Trovão não deu as caras e deixou-se hibernar por longos vinte e cinco anos longe das gravadoras. Bem, uma dica, Trovão não precisava ter se resguardado por tanto tempo. Fica o recado e o puxão de orelha dos fãs.

(Cristina Guedes)

Linaldo Guedes

Editor de Cultura/Jornal "A UNIÃO"